domingo, 10 de novembro de 2013

"Solidariano"

Debruço os meus ouvidos e os meus olhos, sobre aquele por quem meu coração se enternece de compaixão. Ao tocar-lhe com o olhar, faço uma prece interior a fim de que suas palavras me alcancem o coração e para que minha escuta não lhe cause angústia e dor. Dói-me que seus pensamentos, independentemente de sua natureza, lhes sejam tolhidos, sufocados ou fragmentados, involuntariamente. É um silêncio que se manifesta na palavra, na espontaneidade suprimida.
Ah, Senhor, não fosse a compostura necessária, me ajoelharia aos pés deste que vos falo e lhe imploraria a liberdade da sua vida! Posto que não funcionaria, recolho-me em busca da técnica adequada, mas me deparo sem o domínio do saber técnico, tampouco do saber do viver.
Ledo engano acreditar que lhe desejo todas as palavras sem mácula e adornadas de luzes angélicas, como que nascidas pela primeira vez e que apontam e descrevem o mundo sem o crivo dos juízes populares e acadêmicos. Não, não só...  Queria mais uma existência sem culpa – para si e para os seus – iluminada por olhos que sorriem tanto quanto os lábios. Queria-lhe mais o direito de ter vida própria, como astro luminoso, resplandecendo em si e de si.
Quem falou que a ignorância era uma dádiva, descreveu um confortável espaço mental, no qual são permitidos todos os delírios fantasmáticos do imaginário popular. Contudo, fui banida desse limbo... Sendo assim, se por um lado perseguem-me as frustrações, por outro, a resignação não é minha companheira. Eu a repudio, tanto quanto a água ao óleo, no mesmo instante em que a dor do outro me consome.

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