Debruço os meus ouvidos e os meus olhos, sobre
aquele por quem meu coração se enternece de compaixão. Ao tocar-lhe com o
olhar, faço uma prece interior a fim de que suas palavras me alcancem o coração
e para que minha escuta não lhe cause angústia e dor. Dói-me que seus
pensamentos, independentemente de sua natureza, lhes sejam tolhidos, sufocados ou
fragmentados, involuntariamente. É um silêncio que se manifesta na palavra, na
espontaneidade suprimida.
Ah, Senhor, não fosse a compostura necessária, me
ajoelharia aos pés deste que vos falo e lhe imploraria a liberdade da sua vida!
Posto que não funcionaria, recolho-me em busca da técnica adequada, mas me
deparo sem o domínio do saber técnico, tampouco do saber do viver.
Ledo engano acreditar que lhe desejo todas as palavras
sem mácula e adornadas de luzes angélicas, como que nascidas pela primeira vez
e que apontam e descrevem o mundo sem o crivo dos juízes populares e acadêmicos.
Não, não só... Queria mais uma
existência sem culpa – para si e para os seus – iluminada por olhos que sorriem
tanto quanto os lábios. Queria-lhe mais o direito de ter vida própria, como
astro luminoso, resplandecendo em si e de si.
Quem falou que a ignorância era uma dádiva, descreveu
um confortável espaço mental, no qual são permitidos todos os delírios
fantasmáticos do imaginário popular. Contudo, fui banida desse limbo... Sendo
assim, se por um lado perseguem-me as frustrações, por outro, a resignação não
é minha companheira. Eu a repudio, tanto quanto a água ao óleo, no mesmo
instante em que a dor do outro me consome.
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