segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Saudade é daquilo que se ama


Queria que toda saudade virasse abraço. Que toda lembrança tivesse cheiro e que minhas mãos pudessem alcançá-las. Matar o que dói e o que a lembrança não separa, que dá voltas e voltas e para no mesmo lugar: na mente e coração. Bom seria fechar os olhos e ver, por mais paradoxal que soe.
E que não temam os marcados pela dor! Estou falando de lembrança que tem sabor de algodão doce. Porque saudade é daquilo que se ama... Ninguém tem saudade de um par de meias furado! No entanto, todo mundo sabe de alguém cujas mãos adoraria ter de volta para lhe calçar essas meias.
É dessa saudade que falo! Dessas coisas que a gente sente falta porque não nos alcançam mais e que estão tão perto, porque estão dentro do coração. Essa casa grande que guarda tudo!
Nossa, que falta faz dizer! Dizer todas as palavras, todos os amores, todos os carinhos. Deixar registrado e esclarecido: é importante e faz falta! Acho que me distraí demais...
Distraída, não experimentei o melhor lugar no colo, nem ensaiei a melhor pose para o sol atingir meu rosto, não comi chocolate o bastante e perdi o cheiro das carambolas. Distraída, sempre distraída! Desperdicei mais carinho e mais sorrisos.
Mas a saudade aproxima, de um jeito que dói, mas deixa junto. Faz lembrar detalhes e olhares, traz de volta e não apaga nunca.

domingo, 9 de setembro de 2012

Equilibrando pratos


O medo não é de Deus! Contudo, ainda que sendo eu d’Ele, a natureza humana teima em me tomar. Percebo em minha vida os olhos atentos do meu senhor sobre mim. No entanto, em meio a este silêncio, falha a fé, angustia-me o coração e minha mente se põe confusa.
Não ouço música, ruído ou barulho. Nada! Contudo, tenho a sensação que serei surpreendida como de assalto, sorrateiramente! E isso me assusta...
Serei eu surpreendida pelo milagre que anseio, ou pelo mal que temo? Não sei quanto tempo mais equilibrarei pratos sobre varetas com a mesma eficiência que um artista circense. Nem quanto tempo resistirão meus sorrisos frente a olhares esmorecidos. É bem verdade que eu nem sabia o quanto podia ser artista... Acabei por descobrir mais de mim quando a maioria não sabia nem quem era. Sou grata à vida por isso, pelas pessoas e por tanto mais!
Estou presa a uma história que não é minha, mas que me move o interior. Não é minha, mas estou nela. Tomei-a por opção! Parece contraditório, mas isso é liberdade e eu sou livre! Posso decidir a que me entregar.
Porém, estou com medo... Medo do tempo, da ressaca da vida, do sofrimento alheio, da verdade. E se a verdade não estiver comigo? Se for vã minha obstinação? Que minhas falhas não ceguem, nem afastem de mim os olhos do supremo Deus. Que sobre tudo e todas as coisas, permaneça, em mim, sua paz.

sábado, 8 de setembro de 2012

Criando laços


Eu tenho descoberto coisas fascinantes sobre querer bem. Sobre generosidade e afeto. Recebendo carinho que não cabe num abraço e palavras que não querem troco, só verdade. E, estranhamente (fascinante!) é verdade. Porque o que é sincero toca o coração, enternece a alma, faz rir. E eu posso sentir isso!

Não há obrigações, interesses, dissimulação! Há um gostar gratuito, nutrido e alimentado aos poucos e sem reservas. Há reciprocidade! E eu que me protejo tão bem do desconhecido, estou rendida porque me sinto invadida pela franqueza e sutileza de sorrisos e palavras.

E é por sentir, e ter me sentido bem com isso, que posso transbordar nas palavras doando-as e tomando-as emprestado: “Significa ‘criar laços’”. “Criar laços”, sábia raposa! Ela sabia do que falava, soube bem definir cativar, definir a origem do afeto.

Embora eu desconheça o instante em que se formam os laços, dá para saber quando eles já existem! É só ver quando as histórias são compartilhadas sem medo dos segredos; quando parte dessas histórias são da própria vida; quando se é capaz de provocar sorrisos sem esforço pelo simples prazer de compartilhar.
Compartilhar... Esse é verbo que vem junto com afeto! Música, piada, história, experiência, aspirações, dificuldades, cuidados... Tudo se pode compartilhar quando se quer bem. É uma excelente maneira de ficar junto, mesmo que não se esteja perto. Ah! Não posso deixar passar mais um aprendizado: é possível estar perto! Ainda que sobrem quilômetros e faltem sons, tato e perfume.

E não são os laços para isso, para deixar perto? Os laços aproximam as partes, mas são diferentes dos nós! Estes sufocam, apertam, prendem. Os nós por apertarem, afastam as pessoas. Laços enfeitam, unem, envolvem.

Aprendi a essência do afeto de maneira fascinante! Que me envolvam os laços do querer bem, que me enfeitem coração!

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Não, eu não tenho um amor distante!


Nem perto, nem junto, nem ao lado. Não, eu não tenho um amor distante! Eu não tenho é amor nenhum. Estou como Arnaldo Antunes: não estou sentindo nada, nem calor, nem dor.
O que tenho são olhos e ouvidos atentos às sensações humanas, bem como um caminhão de palavras e sentimentos para doar e florir as frases e os olhos e ouvidos.
Não estou apaixonada por ninguém (bem queria!). Mas sou apaixonada pela vida, sou romântica e feliz. Parece-me razoavelmente suficiente para juntar com palavras e transbordar em cartas que eu não escrevi.
E não me importa se precisar escrevê-las um dia, tenho tantas palavras que reproduziria o gênero, todos os dias, sem repetição. Meu maior alimento são as emoções, as minhas e a dos outros, isso me mantém viva, é o que me faz transbordar em sorrisos, em lágrimas e em palavras.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Perto e junto são coisas diferentes!


Não some assim, tem dó! Já te falei que tenho intolerância à solidão. Você faz falta ao meu mundinho colorido, preciso da sua cor nele. E nem me venha com desculpas porque não é dos seus abraços que me cabem ou das suas mãos bagunçando meus cabelos que eu estou falando. Nessa distância, seus braços não me alcançam, eu sei...
Acho que você não está apenas não me vendo, mas não me ouvindo nem sentindo. Estou me referindo ao seu abandono, à omissão das suas palavras e ao seu pouco esforço para colher o sentido das minhas. 
Parece até que esqueceu que perto e junto são coisas diferentes! Dai mesmo você pode aquecer meus ouvidos e sintonizar nossas emoções, você ainda tem esse poder. E é por essa façanha e outros afagos que continuo andando em sua direção, colhendo flores e tropeços pelo caminho. 
Às vezes, é duro estar só, então é bom que você esteja vindo ao meu encontro porque posso me distrair para evitar sofrimento. Posso mudar minha rota a busca de novos tratamentos: também não tenho tolerância ao sofrimento. E, assim, mesmo que soe estranho, você podia vir em sentido contrário... É que, andando em direções opostas, nos alcançaremos mais rápido. 
Mas olha para mim, de onde você estiver agora, olha para mim e veja meu sorriso mais inteiro, ele ainda é todo seu. Quem sabe assim você para de se preocupar em estar perto e se dedica em estar junto, isso sim, vai nos aproximar.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Não quero estar bem, definitivamente!


Em outras palavras, ela tentou me convencer que o amor não existe. E eu que estava repleta de perguntas sobre como ser um sendo dois, paralisei com um “felizes para sempre” sem amor. Ela só sabia de como era boa e segura a companhia dele, e o quão certa estava quando decidiu dizer sim, ele lhe seria bom para sempre... A paisagem da sua janela é linda, conseguiu um emprego promissor e ele a respeita e a apoia. 
Ela conhecia tudo sobre estar bem, mas não conseguia me explicar como é ser feliz e fazer feliz. Não sabia nada sobre fascínio, delírio e carícias, sobre medos e consolos, sobre lágrimas e pazes. Ela me parecia tão inteligente e aceitou tão pouco. Quis, apenas, estar bem. 
Descobri que eu não quero estar bem, definitivamente! Quero mesmo é que minhas pernas, mãos e sentidos tremam-se todos. Que minhas palavras se percam e minha razão também. Que as batidas do meu coração impulsionem outro, e que, mesmo separados, batam no mesmo ritmo. Quero perder o controle, bater a porta e sair correndo pra pedir desculpas quando o arrependimento chegar. Porque eu não vou estar bem, visto que estarei amando! 
Ela não conheceu o amor, e não está disposta a isso. Porque ela quer ter certeza que tudo está bem, o amor pede mais que isso... Precisa de um pouco de insegurança, de dengo, de loucura, de exagero e de simplicidade. Mais de si, menos de mim. É preciso abdicar um pouco do bem estar para estar junto e amando ao mesmo tempo.
Que esse mal me encontre!