terça-feira, 28 de outubro de 2014

Reino da noite

Chega a noite e eu me perco nas horas
Nela quero vagar como se fosse dia
Me dispo de veste e me visto de luz
Luz de lua, luz de noite
Parece que as horas me são súditas
E as palavras soam como música
Dançam em meus ouvidos
Pulsam em meu coração
E toda pele vira tinta
Seus arrepios e memória viram palavras
Se derramam pela ponta da caneta 
À noite, todo sentimento se escreve

Nesse silêncio eu reino
É meu reino
As palavras transitam no ar
Explodem como bolhas de sabão
Borbulham como larva de vulcão
É noite e é luz
É ausência de voz e terna companhia
Estou comigo

Mas nada é meu
Não sou dono, rei ou rainha
Essa hora não é minha
E, nesse tempo, sou plebeu
Réu confesso
Rendido e condenado
Com a indignação ignorada
E as palavras
E alma
Sou agora olhos cerrados
Mãos largadas
Escravo do tempo
Nada