domingo, 1 de dezembro de 2013

Doce e inusitado, Novembro

Definitivamente, o inusitado está reservado para mim! Eu só preciso me acostumar com isso... Com o imprevisto, com o não planejado, com o surpreendente. Com essas coisas que devem acontecer todos os dias, mas que você só viu em cena de filme ou na história que alguém contou. Não com você!
Um homem que não deve ter casa, e que – com certeza! – viu a chuva cair muito mais vezes do que eu, sorriu! Sorriu não, riu de mim! Um mendigo, que minutos antes levara noventa centavos em moeda que eu carregava no bolso, gargalhou, pasmo, ao me ver sentada no banco do parque. Ele achou graça porque eu aceitei a chuva como companhia enquanto dividia um guarda-chuva de maneira meramente ilustrativa. Ele riu porque, diferente dos normais que apenas estranhavam aquele comportamento, sabia que naquele banco, apesar do guarda-chuva, ninguém estava se importando em se proteger, em não se molhar, já estávamos molhados! O mendigo riu de mim porque viu o que ninguém viu. E eu vou guardar essa cena pra sempre!
Assim como ninguém viu os sofrimentos daquele menininho tão lindo e seus planos para se livrar do padrasto. Eu vi e ele resolveu me contar... Pobre padrasto, nem sabe dos crimes que cometeu. Talvez, por querer fazer a coisa certa e ser bom o bastante, roubou os sonhos e comprometeu as grandes fantasias de seu enteado. Talvez mesmo, eu nem precisasse saber de tanto, mas ele me contou... Contou seus medos, seus planos e seus sonhos. Talvez não! Eu realmente não precisava saber, exceto para começar a me perguntar: por que eu?
E como não se perguntar? Oras, eu trabalho num lugar com mais dez pessoas capazes de exercer a mesma atividade e qualquer outra dessas podia ter recebido aquela criança tão linda e esperta, que nem pareceu precisar de mim. Só que eu recebi o filho, eu escolhi receber a mãe e eu resolvi perguntar como ela estava, não apenas perguntar, eu, realmente, quis saber. E para quê? Eu não precisava. Só que, ela sim! E foi assustador... Era tanta dor que ela carregava que quase banhou o lugar que estávamos. Foi tanta dor que saiu dela que até doeu em mim... Eu me desfiz de um jeito que para me refazer de novo levou um tempo maior do que eu imaginava.
Eu me refiz e nesse novo formato, já mais disposta a captar esses sinais estranhos e ainda pouco decifrados, meu novembro se completou com uma mocinha de seus 13 anos e uma vida incrível. É óbvio que eu quis saber da vida dela! Afinal, não é todo dia que alguém lhe convida para assistir a um casamento sem nem conhecer os noivos! Tudo que ela queria era companhia para ver os vestidos e a maquiagem que as convidadas usavam e, claro, a noiva. Tão intrigante quanto o episódio, a jovem garota que pega quatro conduções para ir à escola, faz cursos à tarde, usa roupa de bazar e que nunca foi ao shopping, me ensinou que a vida reserva surpresas a cada momento.

Ah, doce e inusitado novembro! Terá sido efeito peculiar dos seus dias ou uma prévia dos que lhes sucederão? Guardarei todas as suas memórias e carregarei todas as suas lições. Se for um sinal, que se abram meus olhos e meu coração de modo que estejam atentos a identificar e decifrar essas cifras.