domingo, 22 de dezembro de 2013

É de vida ou de morte


Sinto-me na iminência de, mais uma vez, matar-me. De lançar esse corpo que padece e essa mente que agoniza no berço esplendido onde o fim se consuma. Fechar os olhos e abandonar a vida, não sem antes soltar o último suspiro: o alívio. Esse ar expirado que anuncia a extinção da vida e de suas exigências correlatas.
Agora entendo bem a afirmação: morrer é fácil. Haja vista que, basta se abandonar às traças e permitir que os vermes lhe corroam. Difícil mesmo é estar vivo, enveredando-se por esse desafio penoso que é viver. E viver não é apenas uma decisão, é também um ato de fé: é dar-se em sacrifício na esperança de não sentir dor.
Viver é cansativo, requer esforço e dedicação. Eu, que sempre me senti viva, não entendo como nunca tinha me dado conta do esforço que fiz pra me manter assim. Ciente das minhas inúmeras mortes até aqui, achei que sempre havia renascido. Pasma estou em perceber que nunca renasci – apesar desses eventos em que a minha vida se rompera – eu continuei vivendo porque, nessas horas de fim, o que busquei foi me manter em estado de vivente.
Esta condição pulsa no meu interior como minhas têmporas em dias de dores de cabeça. E dói como tal... É como se viver, sorrir e sofrer fosse tudo uma coisa só. Administre-os, meu bem! Se puder, é claro... Ah! Que canseira isso dá. Quanto sono provoca. Se bem que... É... Já não é mais nem sono! É uma contínua embriaguez de estar viva.
Sei que estou prestes a abrir fendas na própria carne, implorando (em vão!) para não sentir dor. E cá estou eu, sem saber se estou a falar de vida ou de morte. Só que, dependendo dá profundidade e da extensão, fendas causam a morte, mas apenas os vivos sentem dor.