quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Folheando


Livro aberto, primeira página, olhou a outra
Nada
Mais uma página e mais outra
Sem compreender coisa alguma, nem achar palavra de sentido
Outra página
Outra e a mesma coisa
Letras e letras, mas era coisa alguma
Sem figuras, sem números, sem qualquer pista
Passou à próxima
Ainda sem sucesso
Ops... Talvez agora...
Na próxima e...
Tarde demais!
Fechou-se o livro

Um punhado de lágrimas, por favor!

Estou catando lágrimas como quem cata moedas em dias de fome. O desejo é que a privação seja saciada com a voracidade que atenta. Quero chorar litros e ver se gasto a dor: consumir o que me consome! Mas nem um pingo, nem uma gota... Não debulha nada do olho, nem lá de dentro, parece mesmo que está tudo no meio do caminho, entalado na garganta, misturado com as palavras que também não saíram.

É como diz essa gente que conhece o infortúnio: agora danou-se! Porque não há o que fazer com esses nós que se amarram e que não descem nem sobem no peito. Por isso é que eu digo, é de danar (ou danar-se!) essa lágrima que não cai e a palavra que não sai. É um perder-se de si, uma falta de encontro com o outro. É desalento, é incômodo, é coisa séria e sem futuro.

Onde já se viu não ter lágrima? Então, afim de consolo, faço meu anúncio: compro, troco, negocio qualquer punhado do produto! Já que meu remédio é o tempo, e este me falta, é apenas para fins de acalento, de busca por alívio e quietude. Um punhado de lágrimas, por favor!