Isso que você diz que vê, não
passa da ponta do iceberg que me tornei. Não me defina pelo que lhe mostro, há
um pedaço muito maior de mim a se descobrir para dizer o que eu sou. Pedaço que
eu escondo, muitas vezes, deliberadamente, a fim de manter essa casca intacta e
agradável aos olhos que veem.
Sou mais quando se olha ao
fundo, só que não tão frio assim. Tenho outras temperaturas também, apesar de,
nem sempre aprazíveis...
Essa risada que me escapa
enquanto os olhos se apertam, é desse pedaço de mim que aprendeu que está vivo
é viver! Mas precisei morrer várias vezes e, algumas vezes, até me matar, a fim
de dar conta da nova pessoa que se formara em mim, que eu precisava ser.
Todas as dores que atravessaram esse
corpo que ri, deixaram marcas profundas que não se apagam com outras risadas e
batons. Compõem a pessoa que me tornei, mas ao custo de carregar feiuras que
emergem mesmo em dias ensolarados e noites frescas.
Essa pele sensível que capta
pequenas partículas de emoção e delicadeza reveste, na verdade, outra camada marcada
de cicatrizes que lhe conferem uma característica mais rígida, ríspida e pouco
bela. É dela que escapam os raciocínios rápidos, grosseiros, impregnados de
malícia e veneno.
Acredite, sou capaz de ofender
com um olhar...
Com esses mesmos olhos que
choram e se enternecem com música e fotografias, com uma linda manhã, com abraços
carinhosos e com a dor do outro. Eu também firo, julgo, condeno e mato. E me
envergonho... Sofro com essa dureza que não sai de mim e com as ações e reações
que provocam.
Esse colorido que se mostra é
meu desejo de ser beleza aos que me cercam, de completar o que lhes falta, de ser
socorro, lugar afável e luzente, de ser a mão que ergue com a mesma bondade das
que me sustentaram. Porque, em raios-X, sou preto e branco e muito contraste.
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