Falo sobre mim de modo que
possa me sentir concreta: pedaço, aço, embaraço, corpo, osso, sangue, gente,
mente, chão, grão. Poetiso minha história que é em prosa e escrita com traços
grossos e firmes. Faço força nos contornos e me enrosco para compor os arabescos.
Eu me falo, eu me calo, eu que me sei quando me suponho. Não se atreva, não se
meta, não me julgue! Não corra o risco de errar e dividirmos o pecado da nossa
existência. Já há muitos perdões a se pedir e distribuir: por que gastar a
misericórdia divina com nossa pobreza de apontar o que não compreendemos? Eu
existo e não apenas quando penso mas, de modo especial, quando sinto; só que me
extrapolo e me expando.
E existir é fascinante…
Então, serei eu um dia captada pelo que sou e não pelo que me faço supor ser? E quantos sóis nascerão nesse intervalo de tempo? Mas não importa, não há pressa nem espera. Há repouso em mim, degustação de ser em si.