terça-feira, 25 de maio de 2010

Afasia. Calma, por favor, eu explico! ;)

Esse blog não tem a intenção de ser um espaço para discussões científicas mas de pretende ser um espaço para compartilhar parte de mim. E porque metade de mim é a lembrança do que fui [e] a outra metade eu não sei não posso deixar de registrar a minha parte que é acadêmica.
Já há alguns anos, venho me dedicando ao estudo da afasia e “obrigo” todos os meus queridos amigos a me acompanharem nesse processo. Tadinhos... (rsrs) Mas o que diabos é afasia, não é? Vou tentar respondê-los e justificar a minha dedicação a isso, ok? E como sempre, conto com a compreensão de todos.

A afasia é uma patologia capaz de emudecer os sentimentos e os desejos ao calar a palavra. Seu principal sintoma é a dificuldade na comunicação, comprometendo significativamente a interação social, gerando sofrimento. Indivíduos que perderam a capacidade de se comunicar, por exemplo, integram um “mundo à parte”, onde a palavra que se tem é calada pelos sintomas de uma patologia.
Há vários “tipos” de afasia. Há casos mais leves e outros altamente comprometedores, levando a pessoa à total falta de comunicação. Em alguns casos, a fala dessa pessoa parece a de alguém que desaprendeu a falar, como se fosse um estrangeiro tentando lembrar as palavras de uma língua que ele conhece mal. Em outros casos, assemelha-se com uma fala de pessoa perturbada mentalmente.
Não há nenhuma alteração motora. O problema é de ordem neurológica. Como se o trajeto neurológico que leva a informação que ouvimos até ao cérebro para que possamos interpretar e o que permite que selecionemos o quê e como falar estivesse danificado. Todos os órgãos que envolvem a produção da fala estão íntegros nesses pacientes. Anatômica e fisiologicamente nada os impede de falar. Assim, o que se vê nesses pacientes é um conflito entre o “dever fazer” e o “poder fazer” o que leva muitos sujeitos a uma experiência de isolamento por se reconhecer um indivíduo desacreditado.

Seus sentimentos mais profundos sobre o que ele é podem confundir a sua sensação de ser uma “pessoa normal”, um ser humano como qualquer outro, uma criatura, portanto, que merece um destino agradável e uma oportunidade legítima (GOFFMAN, 1988, p. 16).

A afasia é decorrente de lesão cerebral. Contudo, nem toda lesão no cérebro leva à afasia, mas todo quadro de afasia prescinde dano no cérebro. É decorrente principalmente de acidente vascular cerebral (chamado AVC ou derrame), mas também acontece devido a tumores, doenças infecciosas (como a meningite), doenças degenerativas (como a esclerose múltipla ou as demências), acidentes com traumatismo cranioencefálico, tensão metabólica (intoxicações), epilepsia.

A Fonoaudiologia nasceu com uma concepção de distúrbios da linguagem carregada de preconceito e discriminação fomentada pela política vigente, a qual, com vistas à normatização da língua, denominou distúrbio o que se afastasse do padrão (BERBERIAN, 1995). Nessa perspectiva, destinou-se a reabilitação aos desviantes e desacreditados. O fazer fonoaudiológico supervalorizou a identificação de sinais e sintomas e a descrição de aspectos anátomo-fisiológicos dos distúrbios (SOUZA, 1987) e, ao invés de re-socializar os indivíduos, colaborou para com sua segregação. Além disso, os profissionais reduzem a identidade sócio-histórica do sujeito ao termo “afásico”, com terapias descontextualizadas resultantes de uma concepção de linguagem estruturalista. São atividades que valorizam a repetição, nomeação, sequenciamento de palavras. E para mim, isso não constitui linguagem.

Bakhtin (2003) apresenta a linguagem como um processo interativo em que fala e escrita, na práxis social, compõem uma manifestação comunicativa em que emergem a multiplicidade, a diversidade, a polifonia, o dialogismo. Essa interação social pela linguagem acontece através dos gêneros textuais, que representam um agir semiótico com funções e lugares sociais específicos e recorrentes (BAZERMAN, 2006; MILLER, 2009).
É nessa perspectiva de (re)socialização com a linguagem em uso que defendo a prática terapêutica na afasia e que venho constituindo meus estudos e pesquisas.

Parte desse texto retirei de um artigo científico que venho escrevendo, por isso as citações.
Espero que me amem mais depois disso (rsrsrs).

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